Leitura realizada entre 12/12/2018 e 14/12/2018. Estes textos foram resultado, evidentemente, da percepção do avanço de uma certo modelo de atuação política que surpreendeu a todos. A todos? Não àquelas figuras que protagonizaram essa onda, acompanhada de muita violência, diga-se isso. No momento em que avançamos, a uma semana, das eleições de 2022, isso está claro e manifesto.
Para entender
(melhor e um pouco mais) como as direitas (no plural) avançaram sobre o poder
nos últimos anos e ganharam efetivamente
o direito de governar. Os textos trazem informações e análises muito
importantes sobre a estratégia e a tática empregada: o uso das redes sociais, o
discurso violento, as opções autoritárias, censura, fundamentalismo, etc., além de análises históricas e econômicas (vide sumário).
Faltou uma análise
mais ampla e profunda sobre o papel da mídia tradicional −̶ TV e jornal −̶ que
teve sim, papel fundamental tanto no golpe quanto no descrédito das
instituições potencialmente democráticas nos últimos anos. Talvez tenha faltado
uma análise como a de Wilson Ferreira fornece em seu blog (bombas semióticas,
guerra híbrida). Luis Nassif fez uma observação importante a respeito disso:
anos apostando na instabilidade, derrubada de presidentes, criou um clima de
descrédito total, permitindo o surgimento de alternativas que não são
alternativas.
O destaque do texto
são as análises da periferia conservadora (Ferréz) e da juventude pobre
bolsonarista (Scalco e Pinheiro-Machado). Também a brilhante análise de Rubens
Casara sobre o autoritarismo e conservadorismo judiciário. Um texto que poderia
ser mais aprofundado é o de Camila Rocha; embora aponte para as redes e
instituições que colaboraram para o golpe, faltou melhor análise sobre a guerra
híbrida. Não acredito que revelou tudo sobre os grupos e think thanks.
Além disso, a questão do financiamento foi insuficiente: como o constatou? Pela
declaração dos integrantes? O dinheiro gasto nas manifestações e trolagens
destes grupos não confere com o que a autora declina no texto. Ou seja: o gasto
não bate com o declarado.
Prólogo de Gregório
Duduvier; ilustrações de Laerte, Luis Gê e Maringoni.
Sumário
·
Apresentação, Esther
Solano Gallego
·
A reemergência da direita
brasileira, Luis Felipe Miguel
·
Neoconservadorismo e
liberalismo, Silvio Luiz de Almeida
·
A Nova Direita e a normalização do
nazismo e do fascismo, Carapanã
·
As classes dominantes e a nova
direita no Brasil contemporâneo, Flávio Henrique
Calheiros Casimiro
·
O boom das
novas direitas brasileiras: financiamento ou militância? Camila
Rocha
·
Da esperança ao ódio: a juventude
periférica bolsonarista, Rosana
Pinheiro-Machado e Lucia Mury Scalco
·
Periferia e conservadorismo, Ferréz
·
A produção do inimigo e a
insistência do Brasil violento e de exceção, Edson
Teles
·
Precisamos falar da “direita
jurídica”, Rubens Casara
·
O discurso econômico da austeridade
e os interesses velados, Pedro Rossi e
Esther Dweck
·
Antipetismo e conservadorismo no
Facebook, Márcio Moretto Ribeiro
·
Fundamentalismo e extremismo não
esgotam experiência do sagrado nas religiões, Henrique
Vieira
·
Moralidades, direitas e direitos
LGBTI nos anos 2010, Lucas Bulgarelli
·
Feminismo: um caminho longo à
frente, Stephanie Ribeiro
·
O discurso reacionário de defesa de
uma “escola sem partido”, Fernando Penna.
Palavras-chaves:
fundamentalismo, p.21 e 92; fatores de longa duração, escravismo, p.24; sujeito
de direito, p. 29; neoliberalismo, p.32; direita e cultura, construção da
subjetividade, ´p.37; Instituto Milleniu, LIDE, João Dória, p.43; think
thanks, p.49; ódio, p.56; ordem e desordem, p. 67; controle social, p.66;
militarização da vida, p.71; sintomas autoritários na Magistratura, Casare e
Adorno, p.77; metáfora do orçamento doméstico - mito, p.80; política de
austeridade beneficia ricos, p.83; antipetismo e conservadorismo, p.85;
direitos LGBTI na CF88, p.98; Bolsonaro, conservadorismo, p.100; feminismo -
comprometimento político, p.106; escola sem partido - desprezo pela política
partidária, p.110; discurso reacionário sobre a escola, p.112.
Carta Maior, 27 de setembro de 2018
Por
que o ódio político assim, de repente e agressivo?
Livro
'O ódio como política' mostra como o
Brasil descobriu, surpreso, uma direita militante e aguerrida no país
Leitura
recomendada e mais do que oportuna neste momento de vésperas de eleição [2018]
em que o ódio coletivo emerge com uma força imprevista é a sugestão da semana.
Título do livro: O ódio como política: a reinvenção das direitas no Brasil.
Trata-se de um volume organizado pela socióloga Esther Solano Gallego e
produzido pela Editora Boitempo, de São Paulo, no qual, diz a Editora, ‘’o
Brasil “descobriu”, surpreso, que havia uma direita militante e aguerrida no
país, que saiu às ruas, perdeu a vergonha de mostrar-se e, no processo do golpe
de Estado contra Dilma Rousseff, passou a hegemonizar a imprensa, as redes
sociais e a agenda política e dos temas morais no país. ’’
‘’Foi
um choque’’, escreve a socióloga Esther Gallego. Ela pergunta? ‘’Que direita é
essa? Ou melhor: que direitas são essas? Como surgiram, organizaram-se,
passaram a polarizar a sociedade e avançar sobre o Estado?
São
perguntas que nos afligem, para as quais estamos, muitas vezes, sem respostas,
mas que se encontram no coração deste O ódio como política: a reinvenção das
direitas no Brasil.’’
Nele,
não há autores de direita entre os dezoito que colaboraram com o livro.
No
entanto, todos procuraram mergulhar nesse universo, que de certa forma é novo e
assustador, sem qualquer preconceito e com o desejo honesto de conhecer e
interpretar seu significado.
Esther
Gallego teve a colaboração de Kim Doria, da equipe da Editora Boitempo, e do
jornalista Mauro Lopes. O livro conta também com as charges de Gilberto
Maringoni, Laerte e Luiz Gê.
O
volume é o sexto da Coleção Tinta Vermelha e se segue á publicação de Occupy:
movimentos de protesto que tomaram as ruas (2012); Cidades rebeldes: Passe
Livre e as manifestações que tomaram as ruas do Brasil (2013); Brasil em jogo:
o que fica da Copa e das Olimpíadas? (2014); Bala perdida: a violência policial
no Brasil e os desafios para sua superação e Por que gritamos golpe? Para
entender o impeachment e a crise política no Brasil (2016).
O
título da coleção é uma referência ao discurso de Slavoj Zizek aos manifestantes
do Occupy Wall Street, no Zuccotti Park, em Nova York, no dia 9 de outubro de
2011. O filósofo esloveno usou a metáfora da tinta vermelha para expressar a
encruzilhada ideológica do século XXI: “Temos toda a liberdade que desejamos –
a única coisa que falta é a tinta vermelha: nos ‘sentimos livres’ porque somos
desprovidos da linguagem para articular nossa falta de liberdade.”
Para
tornar o livro mais acessível, todos os autores abriram mão de receber remuneração
pela publicação de seus textos e charges. A Editora agradece a ‘’todos esses colaboradores,
e também aos demais autores de nosso catálogo que nos ajudam a fomentar a
reflexão e o olhar crítico.’’
Na
sua apresentação, Esther ressalta: ‘’Ao longo destes últimos anos, o campo progressista
assistiu perplexo, atrapalhado e inativo à reorganização e ao fortalecimento
político das direitas. “Direitas”, “novas direitas”, “onda
conservadora”,
“fascismo”, “reacionarismo”... Uma variedade de conceitos e sentidos para um
fenômeno que é indiscutível protagonista nos cenários nacional e internacional
de hoje: a reorganização neoconservadora que, em não poucas ocasiões, deriva em
posturas autoritárias e antidemocráticas.’’
E
anota: ‘’Depois de seguidas derrotas (vitória de Trump, Brexit, popularidade de
Bolsonaro), não é possível ficar numa postura desorientada e titubeante, sob o
risco de as forças democráticas serem engolidas por aquilo que deveríamos
combater com veemência. ‘’
O
livro, segundo ela, ‘’procura aprofundar-se nas complexas dinâmicas das direitas
desde diversos pontos de vista e análises. Este livro é escrito a partir da
reflexão, da crítica, da denúncia e da proposta.’’
Os
autores que dele participam: Camila Rocha, Carapanã, Edson Teles, Esther Dweck,Fernando
Penna, Ferréz, Flávio Henrique Calheiros Casimiro, Gilberto Maringoni, Gregório
Duvivier – o prólogo é dele - , Henrique Vieira, Laerte,
Lucas
Bulgarelli, Lucia Mury Scalco, Luis Felipe Miguel, Luiz Gê, Márcio Moretto
Ribeiro, Pedro Rossi, Rosana Pinheiro-Machado, Rubens Casara, Silvio Luiz de
Almeida, Stephanie Ribeiro.
Os
temas de cada capítulo: A reemergência da direita brasileira, Luis Felipe Miguel.
Neoconservadorismo e liberalismo, Silvio Luiz de Almeida. A nova direita e a
normalização do nazismo e do fascismo, Carapanã.
As
classes dominantes e a nova direita no Brasil contemporâneo, Flávio Henrique
Calheiros Casimiro. O boom das novas direitas brasileiras: financiamento ou
militância? Camila Rocha.
Da
esperança ao ódio: a juventude periférica bolsonarista, Rosana Pinheiro Machado
e Lucia Mury Scalco. Periferia e conservadorismo, Ferréz. A produção do inimigo
e a insistência do Brasil violento e de exceção, Edson
Teles.
Precisamos falar da “direita jurídica”, Rubens Casara.
O
discurso econômico da austeridade e os interesses velados, Pedro Rossi e Esther
Dweck. Antipetismo e conservadorismo no Facebook, Márcio Moretto
Ribeiro.
Fundamentalismo e extremismo não esgotam experiência do sagrado nas religiões,
Henrique Vieira.
Moralidades,
direitas e direitos LGBTI nos anos 2010, Lucas Bulgarelli.
Feminismo:
um caminho longo à frente, Stephanie Ribeiro. O discurso reacionário de defesa
de uma “escola sem partido”, Fernando Penna.
No
seu prólogo, Gregório Duvivier provoca: ‘’Tudo o que a direita brasileira propõe
é o que já foi praticado nos nossos quinhentos anos de história. Feito dizer:
“Você tá doente? Eu inventei um negócio: você corta seu antebraço e deixa
sangrar”. Então, isso se chama sangria e faz quatro mil anos que não dá certo.
“Queria propor uma coisa nova, que é queimar tudo que é bruxa.”
E
mais adiante: “Nossa bandeira jamais será vermelha”, dizem os cidadãos de bem,
vestindo verde e amarelo. Já é vermelha há muito tempo, graças a vocês.’’
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