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domingo, 25 de setembro de 2022

Ódio como política e as eleições - 2018-2022

GALLEGO, Esther Solano (org.) O ódio como política. A reinvenção das direitas no Brasil. São Paulo: Boitempo, 2018 (Tinta Vermelha).

Entenda como a direita atua na política e como a economia e as instituições permitem que isso ocorra.

Leitura realizada entre 12/12/2018 e 14/12/2018. Estes textos foram resultado, evidentemente, da percepção do avanço de uma certo modelo de atuação política que surpreendeu a todos. A todos? Não àquelas figuras que protagonizaram essa onda, acompanhada de muita violência, diga-se isso. No momento em que avançamos, a uma semana, das eleições de 2022, isso está claro e manifesto.  

 

Para entender (melhor e um pouco mais) como as direitas (no plural) avançaram sobre o poder nos últimos anos e ganharam efetivamente  o direito de governar. Os textos trazem informações e análises muito importantes sobre a estratégia e a tática empregada: o uso das redes sociais, o discurso violento, as opções autoritárias, censura, fundamentalismo, etc., além de análises históricas e econômicas (vide sumário).

Faltou uma análise mais ampla e profunda sobre o papel da mídia tradicional −̶ TV e jornal −̶ que teve sim, papel fundamental tanto no golpe quanto no descrédito das instituições potencialmente democráticas nos últimos anos. Talvez tenha faltado uma análise como a de Wilson Ferreira fornece em seu blog (bombas semióticas, guerra híbrida). Luis Nassif fez uma observação importante a respeito disso: anos apostando na instabilidade, derrubada de presidentes, criou um clima de descrédito total, permitindo o surgimento de alternativas que não são alternativas. 

O destaque do texto são as análises da periferia conservadora (Ferréz) e da juventude pobre bolsonarista (Scalco e Pinheiro-Machado). Também a brilhante análise de Rubens Casara sobre o autoritarismo e conservadorismo judiciário. Um texto que poderia ser mais aprofundado é o de Camila Rocha; embora aponte para as redes e instituições que colaboraram para o golpe, faltou melhor análise sobre a guerra híbrida. Não acredito que revelou tudo sobre os grupos e think thanks. Além disso, a questão do financiamento foi insuficiente: como o constatou? Pela declaração dos integrantes? O dinheiro gasto nas manifestações e trolagens destes grupos não confere com o que a autora declina no texto. Ou seja: o gasto não bate com o declarado.

Prólogo de Gregório Duduvier; ilustrações de Laerte, Luis Gê e Maringoni.

 

Sumário

 

·         Apresentação, Esther Solano Gallego

·         A reemergência da direita brasileira, Luis Felipe Miguel 

·         Neoconservadorismo e liberalismo, Silvio Luiz de Almeida 

·         A Nova Direita e a normalização do nazismo e do fascismo, Carapanã

·         As classes dominantes e a nova direita no Brasil contemporâneo, Flávio Henrique Calheiros Casimiro 

·         boom das novas direitas brasileiras: financiamento ou militância? Camila Rocha 

·         Da esperança ao ódio: a juventude periférica bolsonarista, Rosana Pinheiro-Machado e Lucia Mury Scalco 

·         Periferia e conservadorismo, Ferréz 

·         A produção do inimigo e a insistência do Brasil violento e de exceção, Edson Teles

·         Precisamos falar da “direita jurídica”, Rubens Casara 

·         O discurso econômico da austeridade e os interesses velados, Pedro Rossi e Esther Dweck

·         Antipetismo e conservadorismo no Facebook, Márcio Moretto Ribeiro 

·         Fundamentalismo e extremismo não esgotam experiência do sagrado nas religiões, Henrique Vieira 

·         Moralidades, direitas e direitos LGBTI nos anos 2010, Lucas Bulgarelli

·         Feminismo: um caminho longo à frente, Stephanie Ribeiro

·         O discurso reacionário de defesa de uma “escola sem partido”, Fernando Penna.

 

Palavras-chaves: fundamentalismo, p.21 e 92; fatores de longa duração, escravismo, p.24; sujeito de direito, p. 29; neoliberalismo, p.32; direita e cultura, construção da subjetividade, ´p.37; Instituto Milleniu, LIDE, João Dória, p.43; think thanks, p.49; ódio, p.56; ordem e desordem, p. 67; controle social, p.66; militarização da vida, p.71; sintomas autoritários na Magistratura, Casare e Adorno, p.77; metáfora do orçamento doméstico - mito, p.80; política de austeridade beneficia ricos, p.83; antipetismo e conservadorismo, p.85; direitos LGBTI na CF88, p.98; Bolsonaro, conservadorismo, p.100; feminismo - comprometimento político, p.106; escola sem partido - desprezo pela política partidária, p.110; discurso reacionário sobre a escola, p.112.

 

Carta Maior, 27 de setembro de 2018

Por que o ódio político assim, de repente e agressivo?

Livro 'O ódio como política' mostra como o Brasil descobriu, surpreso, uma direita militante e aguerrida no país

 

Leitura recomendada e mais do que oportuna neste momento de vésperas de eleição [2018] em que o ódio coletivo emerge com uma força imprevista é a sugestão da semana. Título do livro: O ódio como política: a reinvenção das direitas no Brasil. Trata-se de um volume organizado pela socióloga Esther Solano Gallego e produzido pela Editora Boitempo, de São Paulo, no qual, diz a Editora, ‘’o Brasil “descobriu”, surpreso, que havia uma direita militante e aguerrida no país, que saiu às ruas, perdeu a vergonha de mostrar-se e, no processo do golpe de Estado contra Dilma Rousseff, passou a hegemonizar a imprensa, as redes sociais e a agenda política e dos temas morais no país. ’’

‘’Foi um choque’’, escreve a socióloga Esther Gallego. Ela pergunta? ‘’Que direita é essa? Ou melhor: que direitas são essas? Como surgiram, organizaram-se, passaram a polarizar a sociedade e avançar sobre o Estado?

São perguntas que nos afligem, para as quais estamos, muitas vezes, sem respostas, mas que se encontram no coração deste O ódio como política: a reinvenção das direitas no Brasil.’’

Nele, não há autores de direita entre os dezoito que colaboraram com o livro.

No entanto, todos procuraram mergulhar nesse universo, que de certa forma é novo e assustador, sem qualquer preconceito e com o desejo honesto de conhecer e interpretar seu significado.

Esther Gallego teve a colaboração de Kim Doria, da equipe da Editora Boitempo, e do jornalista Mauro Lopes. O livro conta também com as charges de Gilberto Maringoni, Laerte e Luiz Gê.

O volume é o sexto da Coleção Tinta Vermelha e se segue á publicação de Occupy: movimentos de protesto que tomaram as ruas (2012); Cidades rebeldes: Passe Livre e as manifestações que tomaram as ruas do Brasil (2013); Brasil em jogo: o que fica da Copa e das Olimpíadas? (2014); Bala perdida: a violência policial no Brasil e os desafios para sua superação e Por que gritamos golpe? Para entender o impeachment e a crise política no Brasil (2016).

O título da coleção é uma referência ao discurso de Slavoj Zizek aos manifestantes do Occupy Wall Street, no Zuccotti Park, em Nova York, no dia 9 de outubro de 2011. O filósofo esloveno usou a metáfora da tinta vermelha para expressar a encruzilhada ideológica do século XXI: “Temos toda a liberdade que desejamos – a única coisa que falta é a tinta vermelha: nos ‘sentimos livres’ porque somos desprovidos da linguagem para articular nossa falta de liberdade.”

Para tornar o livro mais acessível, todos os autores abriram mão de receber remuneração pela publicação de seus textos e charges. A Editora agradece a ‘’todos esses colaboradores, e também aos demais autores de nosso catálogo que nos ajudam a fomentar a reflexão e o olhar crítico.’’

Na sua apresentação, Esther ressalta: ‘’Ao longo destes últimos anos, o campo progressista assistiu perplexo, atrapalhado e inativo à reorganização e ao fortalecimento político das direitas. “Direitas”, “novas direitas”, “onda

conservadora”, “fascismo”, “reacionarismo”... Uma variedade de conceitos e sentidos para um fenômeno que é indiscutível protagonista nos cenários nacional e internacional de hoje: a reorganização neoconservadora que, em não poucas ocasiões, deriva em posturas autoritárias e antidemocráticas.’’

E anota: ‘’Depois de seguidas derrotas (vitória de Trump, Brexit, popularidade de Bolsonaro), não é possível ficar numa postura desorientada e titubeante, sob o risco de as forças democráticas serem engolidas por aquilo que deveríamos combater com veemência. ‘’

O livro, segundo ela, ‘’procura aprofundar-se nas complexas dinâmicas das direitas desde diversos pontos de vista e análises. Este livro é escrito a partir da reflexão, da crítica, da denúncia e da proposta.’’

Os autores que dele participam: Camila Rocha, Carapanã, Edson Teles, Esther Dweck,Fernando Penna, Ferréz, Flávio Henrique Calheiros Casimiro, Gilberto Maringoni, Gregório Duvivier – o prólogo é dele - , Henrique Vieira, Laerte,

Lucas Bulgarelli, Lucia Mury Scalco, Luis Felipe Miguel, Luiz Gê, Márcio Moretto Ribeiro, Pedro Rossi, Rosana Pinheiro-Machado, Rubens Casara, Silvio Luiz de Almeida, Stephanie Ribeiro.

Os temas de cada capítulo: A reemergência da direita brasileira, Luis Felipe Miguel. Neoconservadorismo e liberalismo, Silvio Luiz de Almeida. A nova direita e a normalização do nazismo e do fascismo, Carapanã.

As classes dominantes e a nova direita no Brasil contemporâneo, Flávio Henrique Calheiros Casimiro. O boom das novas direitas brasileiras: financiamento ou militância? Camila Rocha.

Da esperança ao ódio: a juventude periférica bolsonarista, Rosana Pinheiro Machado e Lucia Mury Scalco. Periferia e conservadorismo, Ferréz. A produção do inimigo e a insistência do Brasil violento e de exceção, Edson

Teles. Precisamos falar da “direita jurídica”, Rubens Casara.

O discurso econômico da austeridade e os interesses velados, Pedro Rossi e Esther Dweck. Antipetismo e conservadorismo no Facebook, Márcio Moretto

Ribeiro. Fundamentalismo e extremismo não esgotam experiência do sagrado nas religiões, Henrique Vieira.

Moralidades, direitas e direitos LGBTI nos anos 2010, Lucas Bulgarelli.

Feminismo: um caminho longo à frente, Stephanie Ribeiro. O discurso reacionário de defesa de uma “escola sem partido”, Fernando Penna.

No seu prólogo, Gregório Duvivier provoca: ‘’Tudo o que a direita brasileira propõe é o que já foi praticado nos nossos quinhentos anos de história. Feito dizer: “Você tá doente? Eu inventei um negócio: você corta seu antebraço e deixa sangrar”. Então, isso se chama sangria e faz quatro mil anos que não dá certo. “Queria propor uma coisa nova, que é queimar tudo que é bruxa.”

E mais adiante: “Nossa bandeira jamais será vermelha”, dizem os cidadãos de bem, vestindo verde e amarelo. Já é vermelha há muito tempo, graças a vocês.’’

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