A morte da rainha Elisabeth II -- apelidada carinhosa-anacronicamente aqui de “Lilibeth”,
pelos vira-latas de plantão – despertou as mais variadas reações, à direita e à
esquerda.
Na direita, aquela lamentação acrimoniosa do tipo “morre
nossa rainha...” e uma cobertura por demais exagerada nos canais de TV
fechados.
Na esquerda, posts críticos apontando para o colonialismo, a
exploração da África, etc., enfim uma crítica ressentida sem muito aprofundamento.
O resto são pequenas matérias superficiais voltadas para o público do ensino
médio e que inundam as postagens de whatsapp. Platitudes.
Por outro lado, tivemos também o mega-show-cafona de Rock (?),
o Rock in Rio. Despertou reações menos opostas e menos controversas, dado que é
um evento que se inscreve no circuito da indústria cultural da música, lançando
seu dossel de ilusões sobre todo mundo. Gostem ou não de “rock”, mas especialmente
naqueles que dizem gostar.
O que uma coisa se relaciona com outra? Vem à minha cabeça:
decrepitude.
A morte de Elisabeth, reinado mais longo e triste da
história, pode simbolizar também a morte da monarquia. Ou melhor, da imagem
dela. Do glamour dela. E de tudo que ela representava como potência, também e inclusive
o imperialismo. Do império britânico não resta mais nada à Grã-Bretanha.
Totalmente frágil e dependente dos EUA, em quaisquer áreas que se imagine. Resta
apenas ser um braço da geopolítica norte-americana, ponta-de-lança da OTAN –
todo o Reino Unido, lembre-se. Essa é parte decrépita. A rainha morre tão velha
e encarquilhada quanto o Reino que representava. Faltou essa análise para a
esquerda pequeno pensante.
E o Rock in Rio? Conta com sua parte de decrepitude.
Roqueiros da maior idade, tanto os que cantam como os que assistem, emulam juventude,
vitalidade, mais desejada que exercida. Por que esse desejo mórbido de se
manter jovem? As sociedades no Ocidente querem vender isso. Seja jovem, faça
exercícios, academia, compre vitaminas, proteínas, trabalhe até morrer. A
indústria cultural martela o tema o tempo todo, no cinema, na mídia, não seria
diferente na música – inclusive por meio do Rock, que sempre remete à rebeldia
de uma juventude renitente. A rebeldia permaneceu apenas na letra, nas roupas,
num anacronismo absurdo misturado à
cafonice dos jogos de luzes multicores. Muita
pirotecnia e pouco fogo. E muito, muito dinheiro. Triste fim do Rock. Restou
entretenimento. Só.
Nenhum comentário:
Postar um comentário