O Que
Está Por Vir (L'Avenir), 2016, Dir. Mia Hansen-Løve
Sinopse:
Nathalie (Isabelle
Huppert) é professora de filosofia, tem dois filhos que pouco vê e um marido
também docente, seu companheiro há 25 anos. Entre trocas de ideias com o pupilo
anarquista, ligações insistentes da mãe solitária e piquetes de alunos, ela leva
uma vida tranquila. Mas tudo está para mudar.
Comentário.
O que este filme
talvez nos mostra é que as mudanças que se dão no mundo também nos alcançam,
independente de nossa atitude mais ou menos ativa nele.
Providencial que a
protagonista seja uma professora de filosofia. Bom exemplo para refletir sobre
a vida ativa e a vida contemplativa (de acordo com Aristóteles). A despeito de
trabalhar como professora - dar aulas, corrigir provas e escrever livros -
Nathalie leva uma vida absolutamente contemplativa. E bem burguesa, diga-se de
passagem. As leituras não levam a ação; pelo contrário, levam à refração de
qualquer atividade mais política ou engajada. Mas as coisas começam a mudar:
divórcio, separação de bens, uma amizade com um jovem, a quebra de contrato
com a editora, os protestos dos alunos frente às mudanças na previdência, a
mãe doente, e um neto. Tudo isso agora "empurrando" a personagem para a ação, levando-a à atividade. Em cada círculo, uma reflexão prática, se podemos
dizer assim: o divórcio: sair da relação acomodada, já que o marido, Heinz, comporta-se como apenas um colega de profissão; a amizade com Fabien: sair da
acomodação contemplativa, dado que Fabien é um "ativista" e acredita
numa alternativa social ao mundo capitalista; o trabalho na editora: sair da
relação economicamente cômoda, pois é evidente que é o trabalho de escrever
livros é que completa a renda; a mãe: sair da relação de filha, já que é
obrigada a dar atenção cada vez maior à mãe, pois o estado social de bem-estar
recua cada vez mais (lembrar da parte dos bombeiros); o neto: entrar na
relação de avó, numa espécie de nova maternidade, um cuidado com a nova
geração, pois o mundo é uma interrogação...
O contexto do filme
são as mudanças da França sob Sarkozy, o avanço neoliberal - momento que
estão se discutindo as reformas previdenciárias, inclusive. Os alunos da
professora querem fazer greve, em protesto às mudanças - mas o movimento está
dividido. A professora nem quer tomar conhecimento. Está imersa em seu mundo
contemplativo. Mas esse comportamento começa a se alterar com as próprias
mudanças em seu meio - trabalho, família, amizade. Então, o que fazer?
Acredito que seja essa reflexão que a diretora do filme quis que fízessemos.
Por isso mesmo a trama não foi totalmente acabada; o filme termina em suspensão;
os fios estão soltos para que nós mesmos façamos seu cerzimento. Não por acaso a filósofa embala um nenê, seu neto, uma promessa de futuro. É preciso ter esperança nas novas gerações.
P.S.: A tradução melhor para L´Avenir talvez seja "o porvir", como o futuro. "O que está por vir", no português, pode dar a ideia do que imediatamente está por vir, algo que aconterá mais próximo de nós - essa ideia é uma decorrência do verbo auxiliar "está", que não deveria ser usado para a tradução.
A crítica
equivocada, na minha opinião, é a do Do AdoroCinema. Leia no link abaixo: