Antropofagia.
1.Ação, comportamento ou condição de
antropófago; CANIBALISMO; 2.Aantr. Prática, ger. com caráter ritual, de
canibalismo entre seres humanos; 3.Bras. Hist. Liter. Art. pl. Movimento
brasileiro de vanguarda, na literatura e nas artes, que, no fim dos anos 1920,
defendia uma combinação de modernização e nativismo, pregando a assimilação
crítica, irônica e irreverente de elementos estrangeiros (...) tomando como
modelo a antropofagia dos antigos tupinambás (ingestão do inimigo para a
apropriação de suas qualidades guerreiras) (...)
Fonte: Novíssimo
Aulete, Dicionário Contemporâneo da Língua Portuguesa, Rio de Janeiro, Lexikon,
2011, p.122.
Defesa de Sakamoto.
No artigo de seu
blog:
O ódio à Marisa Letícia: É o Brasil antropofágico que pede
passagem
O referido post de Sakamoto causou alguma
celeuma entre intelectuais, que se viram "ofendidos"ou afetados com o
uso do termo acima pelo jornalista. Não vi razão para tanto e ainda mais para
um “puxão de orelha” tão exemplar e público, desproporcional ao erro, no meu
entendimento. Talvez haja quem não
concorde e diga que eu é que estou exagerando. Mas para quem ler o texto de
Beatriz Azevedo, coloque-se no lugar do sabatinado e tente avaliar suas
próprias percepções das coisas que lhe afetam. O artigo da autora é xistoso,
recheado de trocadilhos ("Sakamoto, você
não saka..."), "adorável" de se ler, bem ao gosto de
algumas literaturas atuais. Não para o
meu. Não aprecio essa estética. O artigo de Sakamoto optou pelo peso, a fim de
ilustrar uma situação trágica da vida nacional, então empregou o termo na sua
acepção quase literal, genética, anterior à consagração semântica que os
modernistas lhe emprestaram. Tenho
muitas ressalvas aos modernistas, brasileiros ou não, mas isso não cabe aqui -
uma certa tendência de se apropriar de termos e torná-los exclusivos e
universais, é uma delas. Os estudiosos do modernismo tratam o movimento como se
ele fosse o ponto culminante da cultura em geral. Não é o meu ponto de vista.
O que me pareceu
evidente é que foi muito oportuno para a Revista Cult publicar a tal crítica,
na Coluna de Márcia Tiburi, em artigo de Beatriz Azevedo - tese de seu livro,
resenhada em 2016 pela própria Márcia.
E enfim, a despeito
de tudo isso, Sakamoto publicou um
adendo ao seu artigo, assinado pelo jornalista Rodrigo Savazoni, que explicou
muito bem, sim, quais as diferenças entre o movimento e o termo de mesmo nome.
E, ao final, o próprio Sakamoto não empregou o termo em seu sentido
estritamente literal, pois ninguém "comeu" ninguém na vida política,
mas o termo quis indicar a eliminação política da figura pública. Então
Sakamoto empregou o termo também em sentido simbólico, tão válido quanto o dos
modernistas. E pelo que me consta, o sentido antropólogico, que não é o dos
modernistas, ainda continua perfeitamente válido. Para a Antropologia ao menos.
Mas tratou-se
Sakamoto como se ele nada soubesse ou desconfiasse a respeito do uso do termo
pelo movimento modernista. E de forma
lamentável.
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