Mais um grande filme
de Scola. Este sobre uma família, quase miserável, que vive em uma submoradia
em Roma e sobrevive marginalmente na sociedade. O
chefe da família, Giacinto, quer manter uma dignidade ilusória — a qual nem ele
mesmo se orienta. A relação com a prole, numerosa, é tensa. Ele mantém um
dinheiro escondido que poderia realizar o sonho de consumo de todos, mas
mesquinhamente ele o guarda para si. Um dia aparece com uma amante, que convida
para morar junto com todos. A mulher, cansada de tudo, não suporta mais este
ato e trama com o restante a morte do patriarca. O intento não dá certo. Por
sua vez, Giacinto trama uma vingança — primeiro tentando incendiar a casa,
depois a vendendo a uma outra família, que quis tomar posse. Após uma pequena
confusão, terminam por morar todos juntos, duas famílias numa casa só.
Uma grande questão,
que está também presente em outros filmes de Scola, é a seguinte: podem os pobres, sendo pobres, elevar-se de
alguma forma? O acesso aos bens de consumo nos trariam algum benefício neste
sentido? Numa noite Giacinto sonha que, por meio de seu dinheiro, consegue
realizar o sonho de todos da família — eletrodomésticos, acesso à escola e à
cultura. Quando desperta, a realidade é a mesma, mas o sonho o perturba, não
muda sua conduta, continua avarento.
A crítica ao
dinheiro é um aspecto subjacente nos filmes de Scola, mas aqui é mais direto. A
guarda do volume de dinheiro — tão
mesquinha e miseravelmente escondido — é diretamente proporcional à pobreza
vivida.
A família se aliena
em busca de dinheiro e sobrevivência: um se prostitui como travesti, outro
mendica nas ruas, outros empreendem furtos. Uma única figura, uma das filhas
maiores, age mais "corretamente", cuidando da criançada e das tarefas
diárias da casa. O restante vive no ócio ou na precariedade. Quando a avó — mãe
de Giacinto que vive numa cadeira de rodas e assiste TV o dia inteiro — recebe
finalmente uma pensão, todos querem se valer do "butim". Cabe a
pergunta: sabemos que pode haver, mas é possível exigir
alguma dignidade do ser humano nesta situação?