FERRÉZ. Cronista de um tempo ruim. São Paulo,
Selo Povo, 2009
Recentemente li o livro do Ferréz, acima indicado. Recomendo bastante, pois gostei muito. Eis sua capa:
O livro trata de
vários temas, mas o principal, pelo que entendi, é o das relações sociais e a
relação com a metrópole de São Paulo. Mas vai além, como justificado na introdução:
"Na verdade Ferréz teria uma vida bem mais
tranquila se em seus textos não focasse a luta de classes e nem a realidade
caótica brasileira" (p.6)
A coletânea de
textos, publicadas em outros veículos, compõe um mosaico que retrata o cinza do
concreto e a dureza do frio metal que estrutura esta cidade. E as relações
sociais assim a acompanham.
Nada escapa à sua
escrita: transporte lotado, denunciando uma condução feita para pobre
(Cotidiano 100%; neste, ainda demonstra o desencanto com a cidade); espaços
demarcados na metrópole e a segregação ("Matemática de favela"); o
desenho da televisão que embota nossos pensamentos ("O Príncipe
sombrio"); a dura vida do jovem em busca de trabalho e realização
("Sobreviver em São Paulo"); o consumismo que nos distrai ("Vida
jovem em promoção"e "Sobre pássaros e lobos"); o preconceito nos
filmes ("Assistindo e sendo humilhado"); a guerra surda na cidade
("Rio de Sangue" e "Meu dia de Guerra").
A linguagem é
cuidadosamente poética, em prosa; uma poesia que nos conscientiza, por seu
conteúdo e nos fascina, por sua forma; uma prosa que denuncia, sim; poesia e
prosa sobre o concreto duro por meio do qual são cimentadas as relações nesta
cidade. Por que não repensá-las? Por que esperar para mudar? Façamos isso já. E
como disse o poeta, armado com a inteligência. Dessa tem medo os políticos e
vendedores de ilusões.
Não pensem que a
escrita de Ferréz é pesada - pesado é só o conteúdo da denúncia. Do outro lado
está alguém consciente das mazelas e batalhador por um tempo melhor, pois este,
como disse, é um tempo ruim. Cabe a nós melhorarmos. Há esperança, gotas de esperança,
mas há. Ler Ferréz é já obter um pouco dessa gota.