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quarta-feira, 7 de abril de 2021

Big Tech: ascensão dos dados e morte da política.


MOROZOV, Evgeny. Big Tech: a ascensão dos dados e a morte da política. Trad. Cláudio Marcondes. São Paulo: Ubu Editora, 2018. 

Trata-se de uma reunião de artigos escritos pelo autor desde 2014. Segundo Ronaldo Lemos (orelha do livro): "Morozov é uma das vozes mais necessárias para se pensar o papel da tecnologia hoje...".

Crítico da "indústria" do Vale do Silício, Morozov não envereda, neste livro, por caminhos fáceis para refletir sobre "inovação", "empreendedorismo", "economia compartilhada", "IA" (Inteligência Artificial), "Big Data" e outros tantos termos derivados das soluções tecnológicas. Na visão do autor não será a tecnologia, especialmente a de softwares e aplicativos, que resolverá nossos históricos problemas. Problemas políticos exigem resoluções políticas. O maior inconveniente  das soluções por aplicativos e Big Data é que estas se voltam quase exclusivamente para soluções individuais e não coletivas. A política como solução de problemas públicos ficou esvaziada pelo discurso de que tudo pode ser resolvido pela tecnologia. Ora, não só isso é improvável como não seria desejável. Improvável porque as soluções tecnológicas advindas do Vale do Silício buscam resultados econômicos, não sociais. Não desejável porque os verdadeiros problemas nunca são de fato resolvidos: o desemprego, a precarização da vida e da saúde, o empobrecimento, entre outras mazelas. E mais: as novas tecnologias aplicadas contribuem para um déficit democrático cada vez mais maior, de uma vez que o espaço público é constantemente reduzido e o consumismo, cada vez mais exacerbado, induz ao isolamento entre os seres, criando verdadeiras "cercas invisíveis. Ao invés de conectar, as redes terminam por separar as pessoas.

Há ainda o problema da vigilância do cidadão: a observação contínua dos indivíduos, cujas escolhas são orientadas por algoritmos, permite também a vigilância estatal pelo rastreamento de dados. As fake news, subproduto das empresas de tecnologia de dados, tornaram quase nulo o debate público e democrático.

Enfim, as opções tecnológicas não vieram para "salvar" o mundo dos problemas. Ao contrário: elas se aproveitam dos problemas estruturais do capitalismo −̶   como o dos transportes, por exemplo −̶   para obter lucros, enormes lucros. Não será com mais tecnologia que iremos resolver nossos problemas, mas com política e decisões democráticas para as grandes questões do momento, tais como a do meio ambiente, a segurança, a desigualdade e outras tantas.

 

Evgeny Morozov, nascido na Bielorrúsia em 1984, é formado em Economia e Administração de Empresas pela AUB −̶   American University in Bulgaria. Formou-se PhD em História da Ciência na Universidade de Harvard em 2018. É autor de vários livros na área do solucionismo tecnológico.


Ronaldo Lemos é advogado formado pela USP e com mestrado pela Harvard. É professor e  pesquisador na área de tecnologia e direito digital. (informações da Wikipédia)