FEYNMAN, Richard. Sobre as leis
da física. Trad. Marcel Novaes; rev. Técnica Nelson Studart. Rio de
Janeiro: Contraponto: Ed. PUC Rio, 2012 [1965] - Leitura realizada em Fevereiro de 2013.
Feynman está aqui reunido neste livro, que
deriva de uma série de palestras, realizadas na Universidade de Cornell, nos
anos 1960. É continuador da Física Quântica. Isso parece ter influenciado seu
pensamento a respeito da Física, que ora pende para o matemático, ora para o
filosófico, embora pareça desprezar este último aspecto. Mas Feynman é muito
didático nas explicações das chamadas LEIS DA FÍSICA.
Vejamos o Sumário:
1.Gravitação, um exemplo de lei física - 15
2.A relação entre a matemática e a física -
41
3.Os grandes princípios da conservação - 65
4.Simetria nas leis físicas - 91
5.A distinção entre passado e futuro - 115
6.Probabilidade e incerteza: a visão
quântica da natureza - 133
7.Em busca de novas leis - 155
Neste primeiro capítulo ele discute o
movimento gravitacional dos planetas, para demonstrar como a Lei da Gravitação
funciona. E chega ao final a se perguntar:
a Gravitação seria o grande "agregador" universal?
No segundo ele afirma que a matemática e a
física são interdependentes, ou melhor, a matemática é independente, já que
pode ser pensada em termos abstratos. Já a física não, pois sempre dependerá da
matemática para completar alguma teoria. Seria a linguagem da Natureza (!?). O
fato é que algumas relações matemáticas se mantêm, misteriosamente, rompendo-se
algumas forças e/ou grandezas, ou seja, desaparecendo (ou esvanecendo-se) uma
determinada teoria física.
No terceiro. Os grandes princípios da
conservação se verificam em vários pontos da física:
-Conservação de energia;
-Conservação do momento (quantidade de
movimento);
-Conservação do momento angular.
Tudo depende de como estamos medindo. A
ciência é como um quebra-cabeça: só não temos certeza de como devemos juntar as
partes.
No quarto, discute a simetria das leis
físicas, que sempre funcionou até descobrir-se a antimatéria. Aqui a simetria
entre esquerda e direita falham. Seria a Natureza quase simétrica?
No quinto, uma discussão entre passado e
futuro. Na física, claro, que seria o retorno a um estado físico anterior. Se
as temperaturas são as mesmas, por exemplo, não há energia disponível para
fazer nada, nem adiante, nem atrás.
"O
princípio da irreversibilidade é o seguinte: se as coisas com temperaturas
diferentes são deixadas por conta própria, as temperaturas se aproximam e a
disponibilidade de energia decresce com o tempo." (p.127)
A unidirecionalidade sempre vai para uma
redução da energia possível. É a chamada "Lei da Entropia". Em outros
termos: o tempo sempre vai para a frente. Mas chega-se a um fim? As leis, sendo
matemáticas, são reversíveis. Mas os fenômenos não.
Pergunta aqui para nós: e a Lei da
Conservação da Energia? Como fica?
Probabilidade e incerteza. Capítulo sexto.
Sendo a simultaneidade subjetiva, pois os fenômenos representam uma experiência
limitada da natureza. Tudo acontece devagar e nosso acesso à natureza não é
direto -- sempre precisaremos refinar experimentos e medidas.
Se levarmos a Física Quântica a sério, dado
que um elétron não possui todo movimento previsível, pois não temos como prever
de antemão sua trajetória, chegaremos à conclusão de que o futuro é
imprevisível. A natureza não precisa satisfazer nossas condições
pré-concebidas.
Portanto, a visão quântica da natureza se
dá em termos de probabilidade, dentro de um contexto que ela não pode ser
preconcebida e assim temos a visão de um futuro imprevisível.
Sétimo. Em busca de novas leis. As leis não
são definitivas. Novas experiências e novos fenômenos "desmontam"
nossas teorias, de modo a estabelecer novas conjecturas. A simetria na Natureza
não é completa. A energia se esvai, de acordo com a Entropia. Portanto,
"adivinhar" as leis da Natureza é uma arte.
Feynman "ataca" muito os
filósofos. Não sei o que ele chama de filósofo, mas como não menciona nenhum
nome, é possível deduzir que estes filósofos são seus próprios colegas,
físicos, matemáticos, etc. Este seria um "defeito" de teóricos
físicos: com quem ele não concorda, chama de filósofo. E a certa altura, abre o
jogo:
"Todo
bom físico teórico sabe seis ou sete diferentes representações teóricas para a
mesma física. Sabe que todas são equivalentes e que ninguém será capaz, em
certo nível, de decidir qual a correta." (p.175)
Bem, isso não é alguma coisa de filosofia?
Por trás da matemática, afirma, é possível
chegar a um resultado e mesmo prever o que vai acontecer, nada tendo a ver com
o objeto real, em si. Isso só é possível comparando-se resultados de
experimentos, ainda que a matemática esteja correta. Quando sabemos que estamos
certos? Feynman propõe algo que sempre vigeu no mundo das ciências: reconhecer
a verdade pela beleza e a simplicidade. Seria a tal escolha do "mais
simples, melhor"? Isso não explica as complexidades da natureza e como ela
se apresenta, a nós, de forma cada vez mais complexa à medida que tentamos não
só entendê-la, como matematizá-la. Mas Feynman estava nos anos 1960, tentando
explicar de modo simples coisas que se apresentavam já bastante complexas --
portanto, isso envolve uma aparência de grande mistério. São os paradoxos que a
Física Quântica nos impõe desde o início da elaboração de suas teorias.
Ao final, ele responde a tudo isso da
seguinte maneira:
"O
que a natureza tem que, a partir de uma parte, permite imaginar o que vai
acontecer com o resto? Esta não é uma questão científica. Não sei como
respondê-la. Só posso dar uma resposta não científica. Acho que a natureza tem
uma grande simplicidade e, portanto, uma grande beleza." (p.180)
Não seria isso, então, uma filosofia? Ele
nos propõe questões e expõe dúvidas, ao longo das conferências, que nos levam
senão a outro lugar que a filosofia!?
Grande Feynman.
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