PATÉTICO
"As pessoas são ridículas apenas quando querem parecer ou ser aquilo que não são."
(G. Leopardi, Pensieri, IC)
Segundo
o dicionário Novíssimo Aulete, 2011, em sua acepção 1: Que desperta compaixão,
piedade, tristeza (cena patética);TOCANTE,
TRISTE. Na acepção 2: Que encerra ou se caracteriza pela emoção, piedade,
terror, etc, extremados ou impróprios (às circunstâncias, situação ou
condições) (discurso patético;
palavras patéticas; gesto patético).
Comentário.
É o que não nos tem faltado. Cenas, circunstâncias, situações, palavras,
discursos e gestos patéticos. Os exemplos vão desde um grupo de autoridades
ansiosos por incriminar e prender políticos até os políticos mesmos, desejosos
por tomar de volta um poder que lhes escapou. Mal escondem as infidelidades
partidárias, os compromissos rompidos, os acordos sub-reptícios e silenciosos,
quando buscam se reposicionar no cenário político.
A
fina sintonia entre autoridades (juízes, promotores, ministros) e determinados
políticos passa-nos despercebida na maior parte de nossa vivência social. Essa
realidade vem à tona e se nos apresenta quando presenciamos tais cenas
patéticas. E é nesse momento que as instituições político-jurídicas mostram sua
face obscena, ideológica, pois elas mesmas nos dizem sobre toda a falsidade em
que são firmadas: as regras valem não formalmente, para todos igualmente, mas
segundo certas condições e a determinadas pessoas. Não nos acostumamos muito
facilmente - por meio da leniência do tempo histórico - com a injustiça contra
os desfavorecidos? E que a lei, o rigor da lei, vale para os inimigos e não
para os amigos? Dura lex, sed lex, mas somente para a maioria desguarnecida.
Por
isso é que entender a encenação do patético, na vida real, é importante - para
nos fazer ver o cair das máscaras, mostrar-nos não só a feiura desses atores,
mas a cena mesma imprópria. E é por isso que nos causa compaixão, tristeza, uma
certa piedade, mas não sem terror - como quando olhamos para um monstro, tal
como uma criatura remendada com membros de outras. É aí que percebemos que
estamos instalados num circo de horror - só não nos damos conta enquanto não
estamos no centro do picadeiro, a servir de espetáculo. Nos damos conta que
pagamos por um show de horrores, disfarçado pelo esforço de mágicos e palhaços.
Pagamos caro o ingresso e acreditamos no show até o momento em que o patético
se apresenta. A falsidade se descortina, mas não temos como recobrar o
dinheiro. A bilheteria está fechada. O que fazer? Talvez tomar o comando do
espetáculo...
Schiller,
filósofo, médico, historiador e especialmente poeta, designou com este termo
("patético"), segundo o dicionário de Filosofia de Nicola Abbagnano,
página 868, uma das espécies do sublime. O sofrimento, na tragédia, funciona
para a arte apenas como um meio para atingir o seu fim (catarse ou purgação,
segundo Aristóteles). O patético seria um meio do artista expor o sofrimento,
mas de tal modo a atingir o público pela compaixão, pelo humano. Complicado?
Não. Pense em Chaplin. O genial Chaplin, cujas tragédias eram disfarçadas de
comédias patéticas. O genial Chaplin empregou o patético em suas obras para
provocar catarse sobre a tragédia de nossas vidas. Na vida real, porém, alguns
atores-autoridades assumem autenticamente o patético e demonstram, com isso, a
farsa em que estão instituídos e na qual querem que todos acreditem. É o
momento em que a ficção desnuda a realidade - e esta se nos apresenta nua e
crua, onde o palco deixa transparecer os bastidores. Sim, logo ali, onde
podemos observar os artistas se maquiando, decorando textos que não
compreendem, vestindo roupas anacrônicas, com odor de mofo e naftalina.
Querem
acreditar nesta realidade ou na de Chaplin? Escolham.
Nenhum comentário:
Postar um comentário