Verdade e Falsidade.
FRANKFURT, Harry G. Sobre a Verdade. Companhia das Letras,
2007.
Dizer a verdade é
importante para o dia-a-dia, para nossa vida prática, para a engenharia, para a
medicina, para tudo onde se precise obter dados fidedignos e para tomar
decisões. Por que não seria a Verdade
importante para as relações sociais e pessoais, já que dizer a verdade só
favorece a vida? É isso que o autor quer tentar nos demonstrar (não apenas
convencer).
Este livro poderia
ser um tratado contra a retórica, a arte do convencimento, mas Frankfurt não
faz isso. Preferiu fazer um livrinho pequeno para dizer poucas coisas, de bom
senso, sobre a verdade. Não a verdade no sentido forte - filosófico, mas no
sentido mais prático, quase de senso comum. Daí este livro ser uma continuação
de seu primeiro, On Bullshit ("Sobre
falar merda"). Há muita gente falando besteira por aí e na verdade -
verdade mesmo - é que elas não estão preocupadas com outros, apenas com si
mesmas, pois apenas fingem acreditar naquilo que não acreditam. Essas pessoas
querem é lesar os outros e por isso temos que nos precaver - procurando pela
verdade e não pela mentira.
No entanto, o autor
não demonstra como, propriamente, identificar, separar a verdade da mentira.
Fala de senso comum, senso prático, pequenas verdades - tudo bem, mas como
discernir em meio a tanta informação veiculada, inclusive as verdadeiras, a
mentira ou falsidade? No capítulo 3, quando menciona Espinosa (o filósofo), o
autor até nos dá uma pista, mas não aprofunda. Dizer a verdade, identificar a
verdade, separar a verdade da falsidade, é o que favorece a vida - a vida
ativa, a felicidade. De fato, quando realizamos um exame médico, por exemplo,
queremos um diagnóstico, um "retrato" o mais fiel possível de nosso
estado de saúde. Por outro lado, nem tudo pode se apresentar, na vida, como um
exame médico, pois nem tudo se reduz a um laudo. E não é muito difícil imaginar
situações ambíguas e multifacetadas da vida, onde a distinção entre verdade e
falsidade não é mesmo fácil e muitas vezes (talvez na maior parte das vezes)
muito pouco provável ou até impossível.
Mas este livro, como
dissemos, não é um tratado sobre a verdade - no sentido estrito e filosófico.
Nem um livro contra o discurso retórico - esse, que usa sempre, com certeza,
asserções não-verdadeiras, embora nem tudo seja necessariamente falso no discurso
retórico. O pessoal da área do Direito que o diga.
É um bom livro de se
ler, especialmente para os leigos em filosofia. O autor defende, indiretamente,
que haja investigação por parte das
pessoas a fim de identificar o falso do verdadeiro, o verdadeiro do falso. Como
fazer a tal investigação? Isso também ele não aprofunda. E não poderia ser de
outro modo - posto que o livro é para leigos. Portanto, ele tentou dar seu
recado da seguinte maneira: "fique esperto
com o que dizem, podem estar querendo te enganar". Mais nada.
Simples? Simples assim.
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