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quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Verdade e Falsidade. 

FRANKFURT, Harry G. Sobre a Verdade. Companhia das Letras, 2007.

Dizer a verdade é importante para o dia-a-dia, para nossa vida prática, para a engenharia, para a medicina, para tudo onde se precise obter dados fidedignos e para tomar decisões. Por que não seria a Verdade importante para as relações sociais e pessoais, já que dizer a verdade só favorece a vida? É isso que o autor quer tentar nos demonstrar (não apenas convencer).
Este livro poderia ser um tratado contra a retórica, a arte do convencimento, mas Frankfurt não faz isso. Preferiu fazer um livrinho pequeno para dizer poucas coisas, de bom senso, sobre a verdade. Não a verdade no sentido forte - filosófico, mas no sentido mais prático, quase de senso comum. Daí este livro ser uma continuação de seu primeiro, On Bullshit ("Sobre falar merda"). Há muita gente falando besteira por aí e na verdade - verdade mesmo - é que elas não estão preocupadas com outros, apenas com si mesmas, pois apenas fingem acreditar naquilo que não acreditam. Essas pessoas querem é lesar os outros e por isso temos que nos precaver - procurando pela verdade e não pela mentira.
No entanto, o autor não demonstra como, propriamente, identificar, separar a verdade da mentira. Fala de senso comum, senso prático, pequenas verdades - tudo bem, mas como discernir em meio a tanta informação veiculada, inclusive as verdadeiras, a mentira ou falsidade? No capítulo 3, quando menciona Espinosa (o filósofo), o autor até nos dá uma pista, mas não aprofunda. Dizer a verdade, identificar a verdade, separar a verdade da falsidade, é o que favorece a vida - a vida ativa, a felicidade. De fato, quando realizamos um exame médico, por exemplo, queremos um diagnóstico, um "retrato" o mais fiel possível de nosso estado de saúde. Por outro lado, nem tudo pode se apresentar, na vida, como um exame médico, pois nem tudo se reduz a um laudo. E não é muito difícil imaginar situações ambíguas e multifacetadas da vida, onde a distinção entre verdade e falsidade não é mesmo fácil e muitas vezes (talvez na maior parte das vezes) muito pouco provável ou até impossível.
Mas este livro, como dissemos, não é um tratado sobre a verdade - no sentido estrito e filosófico. Nem um livro contra o discurso retórico - esse, que usa sempre, com certeza, asserções não-verdadeiras, embora nem tudo seja necessariamente falso no discurso retórico. O pessoal da área do Direito que o diga.
É um bom livro de se ler, especialmente para os leigos em filosofia. O autor defende, indiretamente, que haja investigação por parte das pessoas a fim de identificar o falso do verdadeiro, o verdadeiro do falso. Como fazer a tal investigação? Isso também ele não aprofunda. E não poderia ser de outro modo - posto que o livro é para leigos. Portanto, ele tentou dar seu recado da seguinte maneira: "fique esperto com o que dizem, podem estar querendo te enganar". Mais nada. Simples? Simples assim. 

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