VELDE, Jan van de, II Haarlem printing press, 1628- Engraving Metropolitan Museum of Art, New York [web Gallery of Art] |
"...Como é terrível a sapiênciaquando quem sabe não consegue aproveitá-la!"
Sófocles -- Tirésias em Édipo Rei, 376-7
Comunicação é, segundo André Comte-Sponville, um intercâmbio de signos, de mensagens, de informações, entre dois ou mais indivíduos. Lógico, essa troca, esse intercâmbio, pode ser de coisas inteligentes ou de bobagens. Não importa o que se comunique: comunicar é passar adiante uma mensagem a alguém.
Que não se confunda a comunicação com seu
conteúdo, que é a informação. A comunicação é uma troca, envolve um meio que
deve ser o difusor. Por exemplo, a TV, que foi um meio de comunicação de ampla
difusão de mensagens, mas sem uma interação direta. A resposta do público é
passiva — tal como ver um anúncio e refletir se vai ou não comprar um
determinado produto. Entre outras coisas.
Com o advento da Internet e das lives
em streaming, foi possível uma
interação direta e uma resposta às informações muito mais rápidas também. O
envolvimento direto, interativo, provoca uma reação mais efetiva, dado que
envolve justamente os afetos, disparados pela comunicação visual dos gestos,
comportamentos e reações.
A qualidade da informação não depende
diretamente do meio. Depende do tempo dispendido na atenção ao assunto — um
livro ou uma live podem se equivaler, depende do tempo envolvido em cada
um deles. Sem mencionar autoria, domínio do assunto, entre outras coisas,
evidentemente.
O alcance da comunicação depende da difusão.
Uma coisa é transmitir algo localmente. Outra, nacionalmente e internacionalmente.
E isso depende do transmissor, não do meio e muito menos da informação em si,
embora sejam esta e aquela importantes.
Uma TV pública vai se diferenciar muito de uma TV privada, mas o alcance
de cada um dependerá muito de seus recursos no geral, em todas as áreas da
comunicação e da informação.
Isso é o
básico se se quer entender por que a comunicação — se desejamos que ela
tenha grande alcance — falha ou não.
Esse é o dilema, um dos, do atual governo
Lula: a comunicação. Ou melhor, o alcance dela, como já dito.
A comunicação da chamada extrema direita é
altamente eficiente, a ponto de ofuscar qualquer coisa de boa que aconteça na
esfera oposta. Quem está numa "bolha" comunicacional é a esquerda,
dado que não consegue alcance na sociedade. Em todas as áreas, os temas devem
ser tratados com cuidado, pois a esquerda não consegue sequer diálogo com
grupos de ideias opostas. A esfera pública está contaminada de ideias
retrógradas e defesa contra qualquer outro tipo que lhe seja exógeno. E qual o
segredo da extrema direita ou mesmo da direita? A hegemonia de suas ideias...
uma resposta rápida e irrefletida. Sempre ouço isto. Mas como ela se deu? Como
se construiu? Com o aumento do conservadorismo. Outra resposta rápida. Mas é
preciso explicá-lo, claro, e isso é mais demorado. Mas para agirmos mais rápido
nisso basta entender que esse recente conservadorismo crescente é artificial,
construído. Sim, possui base social, é possível explicá-lo historicamente
— mas é perfeitamente possível
refreá-lo. E quiçá invertê-lo.
Até aqui quero asseverar alguns pontos:
1 - Se quisermos discutir sobre a qualidade
da informação não é na comunicação que devemos nos deter;
2 - A qualidade da informação é importante
para o campo da esquerda, mas seu alcance, em termos quantitativos é
fundamental;
3 - Se quisermos um grande alcance em nossa
comunicação é preciso se deter nos mecanismos e métodos da comunicação — e isso
depende de nós, os transmissores;
Viralização da informação.
Já se disse acima que a direita (ou extrema
direita, pouco importa) consegue uma eficiente comunicação, pois conseguiu, faz
muito tempo, "furar a bolha", atingindo amplos setores sociais. E
conseguiram isso com a viralização da informação por meio das redes sociais, em
especial o WhatsApp e o Telegram. Há outros dispositivos, que cabem um no
outro: o TikTok, por exemplo, com vídeos curtos. A viralização permite produção
orgânica e eficiente desses vídeos curtos. Grupos são formados em forma de
pirâmides, por isso seu alcance é formidável. A modulação de comportamentos na
rede é outra variável e isso depende dos agentes acima na pirâmide — os
transmissores principais. A forma de pirâmide é fundamental, pois é ela que
determina seu espalhamento. Há muitos outros conceitos envolvidos nessa forma
comunicacional, mas não é o caso de discuti-los aqui.
Fontes:
COMTE-SPONVILLE, André. Dicionário
Filosófico. Trad. Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
SOUZA, Joyce; AVELINO,
Rodolfo; SILVEIRA, Sérgio Amadeu da. (org.) A sociedade de controle.
Manipulação e modulação nas redes digitais. São Paulo: Hedra, 2018
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