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segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

Cidade de São Paulo. Sem muito o que comemorar em 2021.

 

Escher - Côncavo e convexo - 1955 – Litografia - Escher Collection, Gemeentemuseum Den Haag, The Hague, the Netherlands © The M. C. Escher Company, the Netherlands. All rights reserved.


"São Paulo, aberta 24 horas." Não mais. Ao menos não para todo mundo, pois lugares seguros depois das vinte horas são caros e o transporte por sua vez já faz algum tempo que não funciona mais após a meia-noite. Os shoppings fecham às vinte duas. É interessante como ainda sobra festa na cidade, em lugares fechados, "baladas". É essa a cidade cosmopolita, que engoliu o espaço público?

 

"São Paulo, onde você encontra de tudo para comer e onde há cozinha do mundo inteiro." Não mais. Pelos mesmos motivos acima. Além disso, a maior parte das refeições agora é via fast food ou algum restaurante desse tipo disfarçado, como alguns mexicanos ou indianos por aí. Existe um turismo gastronômico em São Paulo para todo tipo de bolso. Achar que vai comer uma comida típica é outra coisa. No mesmo raciocínio podemos incluir as comidas regionais. Nestas ainda é possível, devido à permanência de pequenas tradições, encontrar algo de original. Mas está cada vez mais difícil. Os chefs de cuisine já dominaram o pedaço com suas cozinhas gourmets.

E o que encontrar em São Paulo, facilmente? Prédios de apartamentos. Modelo de cidade que foi se construindo ao prazer (e regalo) de empreiteiros e agentes ligados ao capital imobiliário, não seria para menos. Políticos incluídos, claro. O resultado...? Vejamos.

 

-Rios de São Paulo. Todos cobertos ou canalizados. Nenhuma novidade. Já nos acostumamos às enchentes, que já diminuíram sim, com... mais obras! (leia-se: enormes buracos de concreto para escoamento das águas);

-Trânsito. Cada vez mais infernal. Todos reclamam. Ninguém quer deixar o carro em casa, com razão, pois o transporte público... bem, sabemos. E é caro, pois é preciso subsidiar a "eficiência" da iniciativa privada;

-Árvores. Cada vez menos árvores. E cada vez mais espanadores de pó (palmeiras). É um dos fatores que torna o clima de São Paulo insuportável no verão e cruel no inverno;

-Barulho. Muito barulho. E existe até competição de quem faz mais barulho −̶   seja com música desambiente ou com som de carro. Nem estou me referindo aos "pancadões", alvo preferido das reclamações em jornais; buzinas, alarmes, TVs de 12 milhões de pessoas, tudo isso junto formam um enorme ruído de fundo altamente contrastável com o silêncio de quando vamos para o interior, por exemplo;

-Poluição. A eterna poluição. Qual será a cor de nossos pulmões neste momento?;

-Sujeira. São Paulo está se especializando nisso, a despeito das empresas de limpeza terceirizadas, muito eficientes; a sujeira dos pombos está cada vez mais difícil de limpar, até mesmo no Metrô. Ou São Paulo acaba com os pombos ou os pombos acabam com São Paulo;

-Muros. Grades. Portões de ferro. Deixam a cidade maravilhosamente embelezada, não? Mas há um escape: o grafite. Isso quando não chega algum prefeito e manda pintar tudo de cinza; há quem goste da arquitetura paulistana, que deita o passado ao chão todos os dias;

-Segurança. Não sei de quem tenho mais medo.

 

Esse é o conjunto de coisas que nos incitam à intolerância e à falta de civilidade entre nós, pois não há como existir qualquer coisa assim num ambiente tão hostil e inóspito. Mas há quem ponha a culpa no caráter do brasileiro, que, segundo esse tipo de avaliação, "não se adapta à vida da sociedade democrática" ou qualquer outra bobagem liberal do gênero.

 

Alguma coisa de boa? Lógico que a oportunidade de emprego e de moradia são elementos fundamentais numa cidade. Isso São Paulo já fez melhor −̶   mas ainda é a esperança de milhares de famílias. Estas merecem a verdadeira homenagem, pois são elas que mantêm a cidade ainda viva, fazendo circular algum sangue no corpo degradado de concreto vertical.

Parabéns povo de São Paulo. Aquele que trabalha mesmo. E só.

 

 

 

"De uma cidade, não aproveitamos as suas sete ou setenta e sete maravilhas, mas a resposta que dá às nossas perguntas."

Italo Calvino, Cidades Invisíveis, III

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