CALVINO, Italo. As Cidades
Invisíveis. Trad. Diogo Mainardi. São Paulo, Companhia das Letras, 1990
(1972). == RESENHA CRÍTICA ==
I
Marco Polo, por meio de missões
diplomáticas, oferece suas descrições das cidades do Império Mongol para o
grande Kublay Khan, que quer ter uma ideia da grandeza e extensão da obra
imperial. As cidades, uma vez conquistadas, são mantidas no plano ideal e
administrativo do império. Por isso são "invisíveis", isto é,
atualizadas por sua descrição narrativa. O segredo de Marco Polo para manter
sua audiência imperial atenta é justamente a composição narrativa das cidades,
ou seja, o modo de contar especial do narrador. E é pela descrição narrativa
que este livro também consegue manter atento (e muito) o leitor. Qualquer
leitor, acredito.
Todas as cidades podem ter algo em comum,
mas certamente todas elas possuem algo que lhe é específico, peculiar, podendo
dessa maneira organizar as vidas de seus moradores e dirigir sua evolução. É o
que alguns arquitetos e filósofos diriam da "vida própria" de uma
cidade, soma de todas as interações de sua população. Ao que me parece, é
justamente aquilo que Marco Polo descreve ao grande Khan, mas de uma forma bem
incomum.
Walter Benjamin afirma em um de seus textos que a arte de narrar estava em vias de extinção. Ao menos no tempo em que escreveu O Narrador. Era o tempo do pós Primeira Guerra, a Grande Guerra, como se costumava dizer. Assim, "...os combatentes voltavam mudos do campo de batalha..." [1], isto é, pobres em narrativa devido ao drama, ao sofrimento, à dor que não queriam reviver, não queriam contar. Uma experiência dessa exige distanciamento para ser narrada, seja no tempo e no espaço. Mas uma vez contada, não será heroica, será trágica, pois:
"...nunca houve experiências mais radicalmente desmoralizadas que a experiência estratégica pela guerra de trincheiras, a experiência econômica pela inflação, a experiência do corpo pela guerra de material e a experiência ética dos governantes." [2]
Então trata-se de uma interrupção da arte
de narrar que passa de pessoa a pessoa, de geração a geração.
O que Italo Calvino nos apresenta é o contrário disso. É arte de narrar, de contar uma história, no seu mais absoluto estado.
II
A obra é riquíssima em linguagem simbólica. Presta-se a muitas áreas, mas em especial pode ser a da arquitetura. Abaixo um link para uma resenha muito interessante extraída de uma revista on line. E possui um gráfico muito interessante das cidades:
https://vitruvius.com.br/index.php/revistas/read/resenhasonline/08.085/3050
III
Mais uma de arquitetura:
https://revistacult.uol.com.br/home/peruana-quer-ilustrar-cidades-invisiveis-de-calvino/
[1] BENJAMIN, Walter. Obras escolhidas I. Trad. Sérgio Rouanet. São Paulo: Brasiliense, 1994. p.197
[2] idem, p.198.